Diante do aumento na frequência do excesso de peso e obesidade infantil e na adolescência, o diagnóstico do estado nutricional em crianças e adolescentes deve fazer parte da avaliação de rotina tanto pelos pediatras quanto pelos endocrinologistas.

O Índice de Massa Corpórea (IMC) é classicamente utilizado para classificação da obesidade no adulto, mas o seu uso em crianças e adolescentes é inadequado.

Em 2009 a Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde do Brasil adotaram as curvas desenvolvidas pela OMS em 2007 (Figuras 1 a 4), que incluem curvas de IMC desde o lactente até os 19 anos de idade e consideram os pontos de corte para sobrepeso e obesidade os percentis 85 e 97, respectivamente (Tabela 1).

            

            

Complicações da Obesidade Infantil

O impacto da obesidade na criança pode ser quantificado pela influência que esta patologia tem na sua qualidade de vida, no recurso aos serviços de saúde, no absentismo escolar, na limitação nas atividades da vida diária, nomeadamente na prática de atividade física, assim como nas relações interpessoais, marginalização, depressão e isolamento.

Na avaliação clínica de uma criança devem constar uma triagem de doenças específicas associadas à obesidade e de potenciais complicações da obesidade.

Atualmente, a obesidade é uma importante causa de doença e de morte.

As crianças obesas têm um risco aumentado de diversas complicações, as quais:

Distúrbios psicossociais:

O estresse pode ser uma consequência da obesidade, devido a fatores sociais e à discriminação, mas ele também pode ser a causa subjacente da obesidade.

Há muito preconceito em relação à obesidade infantil; crianças com excesso de peso ou obesas são desenhadas como preguiçosas e feias.

Existem sintomas comuns em pacientes com excesso de peso e obesidade e que sugerem uma relação entre estresse e obesidade que são: ansiedade, depressão, rejeição social e isolamento.

Distúrbios do crescimento:

O excesso de peso encontra-se associado a uma maturação sexual precoce nas meninas e um atraso na maturação sexual nos meninos .

Distúrbios respiratórios:

Complicações respiratórias, tais como a apnéia do sono, de padrão obstrutivo, a asma e a intolerância ao exercício físico, são frequentes em crianças obesas e podem limitar a prática de atividade física e dificultar a perda de peso.

Distúrbios cardiovasculares:

O aumento do colesterol sérico é um fator de risco para a doença coronária, e esse risco é ainda maior quando associado à obesidade.

A aterosclerose tem início na infância, com o depósito de colesterol nas artérias musculares, formando a estria de gordura.

Essas estrias nas artérias coronárias de crianças podem progredir para lesões ateroscleróticas avançadas em poucas décadas, sendo este processo reversível se interrompido no início do seu desenvolvimento.

Distúrbios ortopédicos:

A obesidade está relacionada com o aumento da lordose lombar, a presença de abdomen proeminente e a inclinação anterior da pelve.

A escoliose, aumento da cifose torácica e deslocamento anterior da cabeça também estão relacionados com a obesidade.  

Distúrbios metabólicos:

Os distúrbios metabólicos que podem estar presentes na obesidade infanto-juvenil são: resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, esteatose hepatica, síndrome do ovário policístico, colelitíase, entre outros.

Muitos dados indicam que o excesso de peso na infância é o primeiro indício da história natural da obesidade. Segundo vários outros estudos, é comum que as crianças com excesso de peso e obesas se tornem adultos obesos.

Sabe-se que a obesidade está associada à mortalidade prematura devido a diversas causas, tais como: a doença coronária, doenças cérebro- vasculares e determinados tipos de canceres.

Contato:

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Referências bibliográficas:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). POF 2008 2009 - Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. 2010.

Calliari LE, Kochi C. Síndrome Metabólica na Infancia e Adolescência. In: Mancini MC, Geloneze B, salles JEN, Lima JG, Carra MK, editors. Tratado de Obesidade. Itapevi: AC Farmacêutica, 2010: 225-238.

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BRUSCHINI, S. & NERY, C.A.S. Aspectos ortopédicos da obesidade na infância e adolescência. In: FISBERG, M. – Obesidade na infância e adolescência. São Paulo, Fundação BYK, 1995. p.105-25.

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